A Segunda Sacerdotisa | Hora do Cappuccino #30



A Segunda Sacerdotisa

Quão nobre é minha alma?
Em seus braços jaz marcas tão profundas
De queimaduras de épocas passadas, cortes e traumas,
Que se perpetuam por séculos, até a vinda da penumbra.
Vastos bosques, verdes e desertos
Dão luz à flores que dançam com o vento.
Sílfides tomam observam com estranheza os corpos
De guerreiros mortos, cuja angústia encontrava em seus braços acalento.
O que o destino reserva para mim?
Por que tenho que esperar até a terra consumir o meu ser?
Terei que voltar e sofrer as mesmas dores sem fim,
Ou terei finalmente o prazer de docemente morrer?
Sou muito mais que minhas curvas e delineados,
Volúpia e corpo esbelto.
Sou a esperteza e o mistério impregnados em corpos
Escondidos em covas profundas onde jaz suas memórias e vidas
que jamais serão mantidas preservadas em cantigas ou em meros
sueltos.
Quem eu era antes do agora?
Seria eu uma anciã, diplomata ou assassina?
Era mais uma princesa presa em uma torre aguardando sua hora,
Ou uma heroína que com suas magias tornava qualquer
Desgraçado um banquete para hienas que se deliciavam na chacina?
Quando você está sozinha em seu quarto,
Para quem você dedica suas lágrimas?
Você tem rachaduras em todos os lados,
Elas podem ser vistas até mesmo nas sombras.
Sou filha do tudo, mas me sinto nada,
Sou mulher da morte, mas amo a vida.
Sou amiga do guerreiro, mas prefiro as fadas,
Sou irmã do homem, mas a mulher é minha favorita.
Sou aquela que fala com deuses,
E não tem medo de se molhar na chuva.
Sobrevivi no deserto por meses,
Pelo poder que a deusa me concebeu como sua sacerdotisa.

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6 Comentários

  1. Lindo poema! Intenso, íntimo, profundo. Amei!

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  2. Fiquei aqui a transitar entre realidades, a pensar em um sem-fim de ontens sem futuros possíveis. Viajei, eu sei... mas fiquei por labirintos sem saída, com o prazer de percorrer apenas. Adorei... bacio

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