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O feminismo é um dos movimentos que mais vem ganhando adeptes ao redor do mundo. Ser feminista é lutar contra o sistema machista e misógino que insiste em por os homens acima das mulheres. Há décadas, talvez séculos, as mulheres lutam para reivindicarem seus lugares no mundo (o que não inclui apenas a cozinha), quebrando aos poucos o muro do patriarcado e conquistando enfim os direitos das mulheres de serem quem são, irem e virem, e serem respeitadas e vistas como iguais diante dos homens.
"Que novidade quando o ex-namorado não quis me apresentar para a família por vergonha! Que novidade quando fui espancada na escola e o professor disse que seria melhor eu pedir transferência! Que novidade quando meu pai me bateu ameaçando me expulsar de casa se eu não parasse de me “vestir de mulher”! Que novidade quando o professor me chamava toda vez pelo nome masculino e as pessoas vieram me questionar sobre meu corpo, meu genital, minha intimidade." - Hailey Kaas
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Muitas pessoas veem o feminismo como um movimento de liberdade, amor e luta pela igualdade entre os gêneros. Porém, quando se trata de igualdade entre gêneros, o feminismo faz questão de dar algumas derrapadas. Principalmente quando se trata da questão trans-feminista.
Ser trans-feminista, na minha opinião (formulada através de falas de Judith Butler e Robert Hill), é lutar pelo direito de desempenhar o livre exercício legal e institucional de sua própria vida como quiser e ter sua liberdade e desejos afirmados pelo resto do mundo, assim como é para com homens e mulheres cis. O trans-feminismo é visto como uma vertente, obviamente, do feminismo em si, porém, é uma vertente muito pouco visibilizada e ainda é massacrada no próprio meio feminista.
"Reconhecer a história das mulheres trans não apaga o trabalho realizado pelas mulheres cis. Só mostra como estamos todas no caminho da liberação coletiva das mulheres e como deveríamos sentir orgulho do progresso que já conquistamos." - LaLa Zannell.
Infelizmente é comum no meio feminista, atacar mulheres trans-feministas com o discurso de que "por nascer um homem, você nunca irá saber como é ser oprimido por ser mulher...", como se o fato de uma pessoa ter nascido e designado a ser um homem, fosse desculpa para menosprezar ela por ser trans. É bom lembrar que ser uma mulher/homem trans é não se adequar com o gênero que lhe foi imposto ao nascer. Se você se identifica como uma mulher, então você é uma mulher. Não se trata de se sentir mulher, mas sim de ser, apenas ser. E por ser uma mulher/um homem trans, você sofre duas vezes mais: uma por machismo, outra por transfobia. Ser uma mulher/um homem trans é ser uma mulher/um homem, apenas isso.
"Todos os dias, acordo em um mundo que me faz sentir deslocada. Quando sobrevivo até o fim do dia para contar minha história e respirar, sou grata." - LaLa Zannell.
A transexualidade é muito contestada pela medicina e a ciência. Muitos dos ataques possuem frases como: "Ah, mas isso não pode! A ciência diz que homem é homem e mulher é mulher! Não tem como um virar outro!", pois bem queride, eu não sei se vocês sabem, mas existe algo chamado intersexualidade. Uma pessoa intersexual é uma pessoa que nasce com características biológicas que não condizem totalmente com o sexo masculino nem com o feminino. A pessoa intersexual é biologicamente trans. Preciso falar mais? Acho que não... mas vou (hehe).
Muitas pessoas dizem que a única pessoa capaz de dizer que uma pessoa é trans ou não é o médico. Como se esse discurso de: "Ah, mas a medicina diz..." ainda fosse válido. Judith Butler disse uma vez:
"Pessoas trans não são criadas pelo discurso médico, mas sim desenvolvem novos discursos através da autodeterminação." - Judith Butler.
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Pare de permitir que as pessoas utilizem dos mesmos discursos ridículos para te definirem. Apenas você sabe quem você é. Feminismo é a luta pelos direitos de todas as mulheres, sejam cis, trans, negras, indígenas, pardas, amarelas, magras, gordas, deficientes, TODAS. Quando você exclui uma mulher de acordo com suas informações biológicas, você não é feminista, pois você não está acolhendo suas semelhantes e muito menos lutando pela igualdade entre os gêneros.
Eu me considero uma pessoa trans gênero-fluida (que é uma raiz da não-binariedade. Um dia irei fazer um post apenas para pessoas gênero-fluidas). Ver mulheres excluindo outras é um desserviço para com o movimento. Devemos nos unir contra a opressão e o patriarcado, mas a maioria está muito ocupada atacando a si mesmas.
"Ser seu eu autêntico em um mundo que não abraça plenamente sua identidade única é um ato de coragem, de desafio, algo lindo." - Jazz Jennings.
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As feministas oprimem as mulheres trans por terem em mente que elas não são "mulheres de verdade", como se a única coisa que te afirmasse mulher fosse uma vagina. Esse é o tipo de pensamento que lhe põe acima de outra pessoa. É como se você invisibilizasse a dor alheia, sem ter a capacidade de sentir a sua dor.
"O movimento das mulheres será perfeito quando houver igualdade. Estamos todas lutando contra todos os tipos de sexismo e marginalização. Quando a igualdade for a norma para todas as mulheres, trans ou cis, o movimento das mulheres será perfeito." - Jazz Jennings.
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A pior coisa que eu já ouvi quanto à mulheres trans é que "as mulheres trans têm resquícios do privilégio masculino", esse tipo de frase fortifica ainda mais a opressão que mulheres trans sofrem no dia a dia por outras mulheres cis. Apesar de serem as mais vulneráveis em uma sociedade que impõe o ideal binário, as mulheres e as comunidades transgênero são em grande medida excluídas das discussões culturais importantes sobre opressão de gênero, os males do patriarcado e como lutar pela igualdade de gênero [.].
"Seja gay, seja trans, negro ou oriental, coração que pulsa no peito é de igual pra igual." - Elevação Mental, Triz
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Quando falamos da exclusão das pessoas trans no feminismo, é crucial reconhecer as feministas radicais trans-excludentes (TERFs), um subgrupo de pessoas para quem as necessidades das mulheres cisgênero não se alinham com as das mulheres e comunidades trans e para quem estas últimas não têm lugar no movimento feminista atual. A ideologia TERF tem sua origem no essencialismo biológico e não difere muito da visão de muitos grupos de direita que defendem os chamados “valores familiares” e fazem questão de retratar as pessoas trans como sendo perigosas ou transviadas [.]. A exclusão dos trans dentro do feminismo muitas vezes ocorre de maneiras mais insidiosas, embora nem por isso menos prejudiciais à formação de um movimento feminista inclusivo e verdadeiramente feminista.
Precisamos perceber que as nossas lutas estão de certa forma interligadas. Todes lutamos contra esse sistema de padronização de gênero, sexismo, sexualidade, pecuniarismo, que nos oprimem há anos. Já somos uma minoria, devemos mesmo diminuir nossos semelhantes ainda mais? A luta é a mesma, amigues.
"Não somos aceitas e nem respeitadas em nenhum espaço social, a mesma coisa que você está fazendo: Nos negando um espaço social que também é nosso por direito. Sim, minha cara, porque queira você ou não, nós somos mulheres. Você não é a guardiã da identidade mulher, você não é mais mulher do que eu porque tem uma vagina. Você apenas é mais preconceituosa e negacionista." - Hailey Kaas [.]
É verdade que uma mulher trans não passa por este processo de construção social/opressão das mulheres cis, por ter nascido biologicamente e convencionalmente homem, porém, pessoas trans também são obrigadas a serem o que não são, ocuparem lugares que não lhes honre e tendo seus pensamentos, escolhas e ideias sobre sua vida e seu corpo reprimidas para que sua mente seja entupida com generidade tóxica ("seja homem!", "não é assim que uma menina deve se vestir!").
Devemos lutar juntes! Essa briga é de todes nós! Ser transfeminista é ser simplesmente uma pessoa em busca de igualdade.
Sites úteis para mais conhecimento trans-feminista:
Feminismo Trans Inclusivo (podcast)
Feminismo Trans (entrevista)
6 Comentários
Gente a luta por um reconhecimento na sociedade é árdua porém já podemos ver seus frutos que são políticas sociais e públicas mesmo que tímidas e um pouco preconceituosas. Nós assistentes sociais estamos a postos pra lutar pelos direitos dos cidadãos não importa quais sejam. Mas.nossa maior bandeira é contra o preconceito e a violência contra as mulheres sejam cis ou trans. Todas nós temos os mesmos direitos na sociedade.
ResponderExcluirFada sensata ❤ Por mais pessoas como você no Brasil e no mundo ❤❤❤❤❤
ExcluirQue hino de post! Adorei essa abordagem acerca da luta trans feminista e concordo com o que você disse. As lutas feministas são divididas em classes para que todas tenham seu espaço de fala, mas geralmente algumas dessas classes (como o feminismo trans e negro) acabam não recebendo tanto destaque quanto merecem. Às vezes gritamos tanto que não ouvimos mais a voz de ninguém e isso é um erro terrível. Realmente, as pessoas trans sofrem não só com a homofobia, mas também com o machismo e por isso é tão importante exercitar a empatia e entender a dor dessas pessoas, independentemente de ser cis ou nunca ter tido contato com uma pessoa transgênero.
ResponderExcluirContinue esse belo trabalho de conscientização, queride! <3
Beijos. :*
Eu fico muito emocionade lendo isso ❤ Obrigade pelo apoio, é muito importante pra mim e para muites de minhes amigues ❤❤❤❤
ExcluirExcelente texto sobre um assunto necessário em nossa sociedade. Tenho pra mim que um feminismo que exclua pessoas transvestigeneres é incompleto, chega a ser bizarro.
ResponderExcluirIsso é verdade, temos muito o que evoluir ainda ❤❤❤❤
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