Nuvens Escarlate
Em meio ao deserto, uma serpente enrolou-se em minha mão,
Brilhava como cobre, e em seus olhos eu podia ver o universo.
Uma caverna se encontrava em minha frente, veio a hesitação,
Deveria eu confiar na lua e nas estrelas e caminhar neste solo perverso?
Eu caminhei lentamente até a entrada da caverna escura,
Ouvia gargalhas, urros, gritarias e algazarras.
No meio da caverna uma fogueira jazia,
E ao redor dela dançavam demônios e criaturas estranhas.
Uma era um velho pequeno e vermelho,
Outra um ganso vestido num manto de alabastro.
Macacos flautistas, pigmeus negros,
Garças arqueiras, onis de todos os tamanhos e jeitos.
No céu, um jovem rapaz voava em sua vassoura,
Nu, acompanhado de corvos, uma maçã e a lua.
Era tão belo como um anjo caído, olhos brilhantes como prata,
Ele olhou para mim, sorriu e continuou voando, até sumir
Nas nuvens escuras.
De repente, o círculo de demônios se transformou num círculo de bruxas,
E no centro, onde estivera uma fogueira, jazia agora um caldeirão.
Cada uma, brandando uma faca, fizeram um corte em seus braços, fazendo sangue pingar por todo o líquido borbulhante.
Elas agora sorriam e olhavam para mim, escondida na escuridão.
A serpente em minhas mãos se transformara em um livro,
As bruxas, estendiam suas mãos, me convidando a juntar-me a elas.
Sentando-me, entreguei o livro à mais velha das bruxas, que estava ao meu lado.
Erguendo o livro, ela cantava a canção da deusa do céu e da terra.
A canção logo me envolveu, e assim eu cantei junto, o mais alto que pude.
Levantamos-nos e nos despimos, em transe com a canção que ecoava por todos os cantos.
A anciã, com o livro erguido, lançou-a nas águas do caldeirão.
A magia agora estava em minhas veias, e correndo por todos cantos e encantos do meu coração.
Dançamos nuas ao redor do caldeirão, cuja fumaça rubra nos envolvia,
Eu sentia meu corpo voar com a canção, a energia, a luxúria, o vermelho do sangue de minhas irmãs.
Sentia que meu corpo era algo que já não existia,
Eu voei e voei, até ver aqueles olhos de prata.
O jovem rapaz agora estava diante de mim, voando comigo,
Havia demônios de todos os tamanhos, aranhas, lagartos, ghouls.
Eles nos viam dançar, cantar, voar, sentir e querer mais e mais,
Logo mais espíritos se juntaram à nossa dança, aumentando o poder daquelas nuvens escarlates que nos envolviam.
E logo nos vimos amando-nos umas às outras.
Fazíamos amor com os espíritos, com os demônios, com a magia.
Os lábios, as presas, os corpos, os olhos,
Os toques, tão profundos quanto qualquer unção.
Estávamos em nosso próprio habitat,
Transando com o mais viril dos demônios,
Tocando as mais belas ninfas
E proferindo maldições à humanidade.
E assim perpetramos nossa rebeldia nas chamas do inferno,
Saíamos dos confins de Sheol e levávamos a desgraça e a destruição.
Deitávamos nas lápides e fazíamos amor com os mortos,
Éramos mais do que espíritos livres, éramos uma legião.
7 Comentários
Que texto é esse? Muito bom mesmo. Curto demais poemas góticos (eu o classificaria assim), pois tem uns toques de sobrenatural que me deixou arrepiado. Parabéns!!!
ResponderExcluirUau! Consegui me conectar de verdade, sentindo cada ritmo, a cada intencionalidade em seus versos! Adoro este seu cantinho! Não me canso de dizer! A cada Leitura já me pego a esperar pelo próximo, sem brincadeira! Até o próximo!
ResponderExcluirMigo, você escreve tão bem. Assim que li a palavra "deserto" me lembrei do livro A Rebelde do Deserto. Os cenários que imaginei para o poema são semelhantes aos que vieram à minha mente enquanto lia.
ResponderExcluirFicou incrível, consegui imaginar coisas lindas na história que você criou <3
Que texto hein!!! Eu me senti dento das suas palavras, sentindo cada momento e eu adoro quando sou atingida dessa forma.
ResponderExcluirVocê escreve muito bem, é intenso e fascinante. Parabéns!!!
Adorei o texto!!! Parabéns
ResponderExcluirAbraços
Adorei a leitura, suas palavras transmitem muita intensidade, toda a descrição dos cenários e acontecimentos me remeteu para uma aura mística e sombria muito interessante. Parabéns pelo ótimo texto!
ResponderExcluirUau, uma viagem cada verso. Me senti como dentro de um sonho, a experimentar sensações, emoções... muito forte isso. Gostei imenso.
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