Quais são os 24 tipos de Amores Filosóficos?


 No artigo de hoje, eu irei explicar os vários amores explicados por diferentes filósofos. A inspiração para esse post veio de uma arte do Eduardo Salles, do site Cinismo Ilustrado, que buscou representar graficamente os amores filosóficos.


 O Amor Socrático está ligado à busca pela sabedoria e ao conhecimento da verdade. Para Sócrates, o amor verdadeira não era sobre atração física ou desejos carnais, mas sim uma profunda busca pela verdade e pelo conhecimento. O filósofo valorizava o amor no nível das almas em vez de corpos, argumentando que enquanto o corpo é temporário e imperfeito, a alma é eterna e divina. Sendo assim, o amor socrático é visto como um diálogo entre almas, um meio de buscar e compartilhar conhecimento, permitindo que as pessoas cresçam intelectual e espiritualmente.


 O Amor Platônico é entendido como um amor idealizado, onde o objeto do amor é visto como perfeito, detentor de todas as boas qualidades e sem defeitos. Muitas vezes, o amor platônico é um amor não correspondido ou impossível, seja por circunstâncias sociais, distância ou outros obstáculos. Tradicionalmente, esse amor é caracterizado pela ausência de desejo ou relação sexual, focando-se mais na conexão emocional e espiritual. Platão via o amor como um agente de transformação, que poderia levar as pessoas a um estado mais elevado de compreensão e virtude.


 O Amor Aristotélico é aquele que impulsiona as pessoas a buscar a felicidade e a plenitude através da união com outra pessoa. para Aristóteles, o amor é uma emoção complexa composta pela atração física que sentimos em relação a outra pessoa, pela conexão emocional que estabelecemos com o ser amado e pela admiração das qualidades e características da pessoa. O filósofo não considerava o amor apenas um sentimento passional, mas sim um compromisso constante com o bem-estar do outro e o com o desenvolvimento de uma relação baseada em confiança, lealdade e honestidade.


 O Amor Agustiniano é uma força natural inerente ao ser humano, impulsionando o ser humano em direção à felicidade. Agostinho acreditava que o amor não apenas define Deus, mas também se torna humano através da criação e da encarnação de Deus na humanidade. Além disso, o amor é anímico, radicando na alma como sua força vital, e a virtude que possibilita a realização autêntica do ser humano. Sendo assim, o amor agustiniano encontra a felicidade quando está alinhado com o amor divino.


 O Amor Cartesiano é uma paixão da alma que é a essência do ser humano e junto à mente são duas substâncias distintas que compõem o dualismo mente-corpo. As paixões seriam experiências conscientes que influenciam o corpo físico, mas não são derivadas dele. O amor pode ser controlado pela vontade e razão, o que é crucial para uma conduta virtuosa segundo Descartes. Sendo assim, o amor cartesiano pode ser visto como uma interação entre a mente imaterial, que experimenta o amor, e o corpo físico, quee é influenciado por essa experiência. Nessa perspectiva, o amor é colocado no domínio da mente e da consciência, separa, mas interagindo com o físico.


 O Amor Leibniziano é uma força harmonizadora que une as mônadas em uma rede de relações positivas e construtivas, portanto, contribuiria para a coerência e beleza moral do universo, refletindo a ordem e a perfeição divinas. As ditas "mônadas" entendidas na extensão da teoria da harmonia universal de Leibniz é uma das substâncias simples que compõe o universo e que estão em constante harmonia preestabelecida por Deus. O amor está ligado à sabedoria e ao poder, e a contemplação da beleza do espírito conduziria à harmonia entre eles, o que levaria para o amor. Sendo assim, o amor para Leibniz não é apenas uma emoção, mas um princípio ético e estético que guia as ações humanas em direção ao bem e à verdade.


 O Amor Baconiano é aquele que enfatiza a importância da experiência e da observação para alcançar a verdade, não sendo interpretado em um sentido romântico ou filosófico, mas sim pela busca do conhecimento e pela compreensão do mundo natural. Este amor seria caracterizado por uma paixão pela descoberta, pela curiosidade intelectual e pelo desejo de entender e melhorar o mundo através da ciência. Sendo assim, o amor baconiano é visto como um amor pela investigação empírica, pela aprendizagem através da experiência e pelo desenvolvimento de um entendimento prático que pode ser aplicado para o benefício da humanidade.


 O Amor Berkeleyano é uma relação entre as percepções e as mentes que as percebem. Para Berkeley, tudo o que existe são ideias e sensações, e a matéria não tem existência independente da mente. Dessa forma, o amor seria uma apreciação da mente pelas ideias e experiências que percebe e pela maneira como essas percepções contribuem para a riqueza da vida humana. O amor berkeleyano também pode envolver uma dimensão espiritual onde o amor é uma forma de conexão com o divino através da apreciação e reconhecimento da presença de Deus em todas as percepções.


 O Amor Espinosano consiste em amar a si mesmo e aos outros de acordo com a razão e as leis da natureza, tornando livres e felizes aqueles que amam dessa forma. Espinosa entendia o amor como uma das principais formas de expressão da liberdade humana, argumentando que ao compreender a natureza e amar racionalmente, a mente poderia alcançar a felicidade. Sendo assim, o amor espinosano está ligado à busca pela compreensão, à harmonia com a natureza e à expressão livre desse amor através da razão.


 O Amor Hobbesiano afirma que aquilo que os homens desejam também amam, e aquilo que odeiam eles sentem aversão. Dessa forma, o desejo e o amor são a mesma coisa, diferenciando-se apenas pela presença ou ausência do objeto desejado. Essa visão está alinhada com a compreensão de Hobbes sobre a natureza humana, onde os indivíduos buscam satisfazer seus próprios desejos e interesses. Para evitar o caos do estado de natureza, as pessoas deveriam concordar com um contrato social, cedendo alguns de seus direitos naturais a um governante forte em troca de proteção e segurança. Sendo assim, o amor hobbesiano é um amor que é guiado pelo interesse próprio e pela busca da satisfação dos desejos pessoais.


 O Amor Lockeano é aquele que respeita a liberdade e a igualdade dos indivíduos. Locke acreditava que as pessoas são razoáveis e capazes de governar a si mesmas sem a necessidade de um poder soberano absoluto, assim como defendia que os homens são criados iguais e têm direitos naturais à vida, liberdade e propriedade. O amor lockeano seria aquele que apoia a liberdade individual, o consentimento mútuo e a busca da felicidade, sem infringir os direitos dos outros. Sendo assim, esse amor poderia envolver o crescimento e a aprendizagem conjunta em um relacionamento, onde cada pessoa contribui para o bem-estar e a melhoria do outro, sempre com respeito à autonomia e aos direitos individuais.


 O Amor Rousseauniano é dividido em dois subtipos: o "amour de soi", que é um amor natural e instintivo voltado para a autopreservação e bem-estar sem prejudicar os outros, e em seu estado de natureza é suficiente e não há conflito entre os indivíduos, pois eles agem com base na piedade e na empatia natural; e o "amour-propre", que é um amor que surge com o desenvolvimento da sociedade e o surgimento da propriedade privada, estando associado ao egoísmo e à comparação com os outros, tornando-se dominante e levando as pessoas a buscar reconhecimento e estima dos outros, muitas vezes às custas do bem-estar alheio. Ou seja, o amor rousseauniano é um amor que valoriza a simplicidade, a autenticidade e a compaixão, em contrate com o amor que busca aprovação e valorização externa. É um amor que promove a harmonia e a igualdade, alinhado com uma sociedade mais justa e equitativa.


 O Amor Kantiano também é dividido em dois subtipos: o amor de benevolência (Liebe des Wohlwollens) que é aquele que deseja o bem para outra pessoa sem necessariamente ter uma inclinação emocional ou interesse pessoal, sendo um tipo de amor altruísta e estando ligado à vontade moral de agir pelo bem dos outros, mesmo que não haja benefício pessoal ou prazer derivado dessa ação; e o amor de complacência (Liebe des Wohlgefallens) que é aquele que encontra prazer ou satisfação nas qualidades de outra pessoa ou na própria existência da pessoa, sendo um tipo de amor baseado em inclinações sensíveis e não é necessariamente guiado por princípios morais.


 O Amor Humeano é uma resposta natural e instintiva que temos em relação aos outros e ao mundo ao nosso redor, sendo apenas uma questão de escolha racional ou de vontade, mas também é influenciado profundamente por nossas disposições emocionais e pela simpatia que sentimos pelos outros. Hume diferenciava vários tipos de amor, como o amor familiar, o romântico e o humano em geral. O amor humeano seria aquele que promove a felicidade e o bem-estar tanto do indivíduo quanto da sociedade, porém, ele também pode ser fonte de conflitos e sofrimento quando não é equilibrado pela razão e pela reflexão moral.


 O Amor Schopenhaueriano é uma manifestação da Vontade, a essência irracional e cega do mundo, e que tem como propósito metafísico o de perpetuar a espécie humana. O amor schopenhaueriano é uma ilusão criada pela Vontade para garantir a reprodução. Seria através do amor que a Vontade da espécie superaria a vontade individual, levando as pessoas a buscar parceiros que possam gerar descendentes com as melhores chances de sobrevivência. Dessa forma, o amor é visto como uma estratégia da Vontade para promover a vida apesar do sofrimento e da dor que caracterizam a existência.


 O Amor Hegeliano é uma força unificadora que transcende a individualidade e permite a síntese de opostos. Nesse caso, a tese e a antítese se confrontam e são superadas pela síntese que preserva e supera ambos os elementos anteriores. O amor hegeliano poderia ser interpretado como uma forma de síntese que reconcilia as diferenças individuais e permite que as pessoas se reconheçam mutuamente em um nível mais profundo, estando alinhado com a ideia de que a realidade é racional e que tudo pode ser explicado através de categorias reais. O amor também poderia ser uma intuição do aparecer de si em si no ser do sujeito em outro, permitindo um conhecimento mediado entre homem e Deus no espaço da comunidade religiosa.


 O Amor Marxista é uma relação social influenciada pelas condições materiais e estruturais das classes sociais, podendo perpetuar normas patriarcais e reforçar divisões sexuais do trabalho, confinando mulheres ao âmbito da vida privada e da reprodução social. O amor marxista poderia ser entendido como uma forma de conexão humana que busca superar as barreiras impostas pela estrutura de classes e pela alienação do trabalho, visando uma sociedade mais igualitária e comunitária.


 O Amor Kierkegaardiano é profundamente ligado à fé cristã e à interioridade do indivíduo, sendo algo que supera o amor natural e as predileções pessoais. Kierkegaard argumentava que o amor cristão não tem um conteúdo prévio e se manifesta na experiência de amar singularmente e individualmente o próximo. Este amor é entendido como uma ação, uma prática, sendo um amor que ama a todo e qualquer homem sem distinção, refletindo a igualdade radical de todos perante Deus.


 O Amor Comteano é um princípio fundamental que guia a sociedade em direção à ordem e ao progresso, sendo o amor quem deveria ser a base para as relações humanas, promovendo a harmonia e a cooperação entre as pessoas. Comte via o amor como uma força positiva que poderia unir a humanidade e ajudar a superar conflitos e divisões, enfatizando a importância do altruísmo, que é o amor desinteressado pelos outros, como um meio de alcançar uma sociedade mais justa e equilibrada, e encapsulado pelo lema "O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim".


 O Amor Unamoniano é a chave para entender a ética e as tensões da vida humana, incluindo o amor a Deus, o amor humano e o amor pela educação. Para Unamuno, o amor era uma força vital que dá sentido à existência humana, preenchendo e eternizando a vida, e sendo o único capaz de lutar contra o destino e a vaidade do mundo passageiro. O amor unamoniano não é apenas um sentimento, mas uma atividade que tem origem na constituição biológica humana, sendo o amor sexual o gerador de todos os outros tipos de amor. Além disso, Unamuno acreditava que o amor nos faz crer em Deus e na vida futura, pois é através do amor que encontramos esperança e a promessa de eternidade.


 O Amor Bergsoniano é uma manifestação da força vital que impulsiona a evolução e a criação, uma conexão intuitiva e profunda que transcende a mera análise intelectual e se aproxima do conhecimento por simpatia. Sendo assim, o amor bergsoniano poderia ser considerado como uma forma de conhecimento que se conecta com a essência da vida e da experiência humana em um nível intuitivo e emocional.


 O Amor Husserliano é um motivo ético fundamental que não se justifica apenas pela razão racionalista, mas também pelo movimento afetivo do amor. Esse amor revela a individualidade tanto da pessoa que ama quanto da pessoa amada, e estabelece uma comunidade de esforço ou de amor com a pessoa amada. Isso significa que o amor husserliano é uma força que une as pessoas em uma comunidade intencional, onde os valores e os imperativos morais emergem da relação amorosa e são vivenciados de maneira subjetiva, mas obrigatória para o indivíduo. Sendo assim, o amor husserliano é um elemento que transcende a mera lógica e entra no domínio da experiência vivida, onde o amor é tanto um revelador da individualidade quanto um construtor de relações interpessoais profundas e significativas.


 O Amor Sartreano é uma tentativa de capturar a liberdade do ser amado, transformando-o em um objeto irresistível e fascinante. Porém, essa tentativa é paradoxal, pois ao mesmo tempo em que o amante deseja ser reconhecido pelo outro, ele também busca possuir o outro, reduzindo-o a um objeto. Sartre via o amor como uma forma de conflito entre a liberdade individual e o desejo de fusão com o outro, revelando-se como uma relação de poder onde o amante busca afirmar sua existência através do outro, mas essa busca é inerentemente frustrada porque o outro é igualmente livre e não pode ser possuído. O amor sartreano reflete a tensão existencial entre a liberdade e a dependência, entre ser para si e ser para o outro. É um amor que busca a transcendência e a autenticidade, mas que está sempre à beira do fracasso devido à natureza conflitante da condição humana.


 O Amor Nietzscheano é a aceitação e o amor por tudo o que acontece na vida, incluindo sofrimento e perda, vendo-os como necessários e até mesmo desejáveis. É uma atitude de abraçar a vida em sua totalidade, sem ressentimento ou desejo de que as coisas sejam diferentes. Nietzsche via o amor como uma expressão da vontade de poder, uma força vital que impulsiona os indivíduos a superarem-se e afirmarem-se no mundo. Nesse caso, o amor não é uma falta ou negação de si, mas uma exuberância e uma afirmação da própria individualidade e das diferenças naturais entre as pessoas. Sendo assim, o amor nietzscheano é uma forma de amor que celebra a vida e a realidade sem idealizações, mas valorizando a força, a paixão e a criatividade, e que reconhece a importância do sofrimento e dos desafios como partes integrantes da experiência humana.

Arte original usada de inspiração

Postar um comentário

0 Comentários