
Adentrar o meio digital pode ser desafiador para aqueles não tão familiarizados com os diferentes tipos de participantes desse meio. Há diversas pessoas com os mais diversos pensamentos e opiniões acerca da atuação da tecnologia e das mídias na sociedade, e cada uma delas se expressa de forma única.
Acontece que a internet é o lugar perfeito para essas pessoas com tantas singularidades encontrarem outras semelhantes, formando assim as comunidades virtuais. É comum, no entanto, que tais comunidades desenvolvam rixas entre si, e é aqui que está o perigo. A internet propiciou o surgimento de muitos grupos extremistas no meio digital, e a entrada de grupos tradicionais que se adaptaram à virtualização da comunicação, permitindo que eles espalhassem suas ideias livremente nas mais variadas camadas da internet.
Neste artigo, eu irei abordar sobre estas comunidades, destrinchar suas ideias e revelar seus principais representantes.
1. Comunidade Geek
A comunidade geek é um grupo social que emergiu nos anos 90, composto por membros engajados na área da tecnologia e que se especializam em um assunto específico, deixando de lado a conformidade em se aprender o básico ou "suficiente" sobre o assunto em questão. Dentre os principais temas escolhidos pelos geeks como hobbies, interesses e conhecimentos, estão: jogos, quadrinhos, filmes, séries de TV, videogames e obras literárias.
Dentro da comunidade geek, muitas polêmicas surgiram e marcaram seus membros de forma duradoura. Atualmente, com o aumento de pessoas ativamente políticas em vários setores da sociedade brasileira, a dicotomia 'esquerda/direita' também chegou na comunidade geek, gerando dois novos subgrupos: os "Nerdolas" e os "Lacrolas".
Os nerdolas seriam aqueles que se identificam com o espectro direito da política e são comumente vistos se posicionando contra alterações de elementos da cultura geek que pendem para um viés ideológico "lacrador" (esquerdista). Exemplos disso são:
• A implementação da ideologia de gênero e sexualidade (popularizada no século 21) em obras populares como Justiça Jovem (com a personagem não-binária Violet Harper, cujo codinome é Halo), Liga da Justiça (com o novo Superman sendo bissexual e namorando um ativista) e entre outros.
• A alteração da raça de personagens históricos para se adequarem à ideologia do Movimento Negro, como por exemplo: A Cleópatra negra (que, na verdade, era branca), Haakom Jarl (um guerreiro viking que foi adaptado como uma mulher negra) e entre outros.
Já os lacrolas seriam os que se identificam com o espectro esquerdo da política e são normalmente vistos se posicionando à favor de alterações de elementos da cultura geek, assim como a criação novas obras que pendem para um viés ideológico "lacrador". Exemplos disso são: Steven Universe, Princesa Jujuba lésbica, Super Drags, Alucard bissexual (Castlevania) e entre outros.
Fora a rivalidade geek baseada em política, a comunidade geek também já entrou em muitas polêmicas devido à forma como os idealizadores de suas obras favoritas levaram as histórias adiante.
Um bom exemplo disso foi a censura do sangue em cenas de luta em Nanatsu no Taizai (2014), seguido pelo jeito "porco" como o personagem principal Meliodas foi desenhado.
O anime Boruto: Next Generations (2017) também sofreu críticas duras ao design dos personagens em comparação com o Naruto clássico (2002) e até mesmo o Naruto Shippuden (2007). Essa "gourmetização" do traço de Masashi Kishimoto foi notado em cenas onde os personagens adolescentes aparentam ter menos de 10 anos de idade (além de terem deixado os peitões da Tsunade bem flácidos, coisa que não agradou os fãs que cresceram tendo um crush pela personagem).
Mas o caos instaurado pelo simples ato de discordar não para por aí, visto a rixa duradoura entre fãs da DC Comics (1934) e Marvel Comics (1939), empresas pioneiras no ramo de histórias em quadrinhos e muito influentes na cultura pop atual. Devido ao tamanho que suas obras atingiram em questão de consumidores, a briga para decidir quem é melhor que quem ainda perdura mesmo décadas após o surgimento das duas.
Uma rivalidade que muitos tendem a continuar alimentando até os dias de hoje, é entre os fãs de Naruto (2002), One Piece (1997) e Dragon Ball (1984), todas as três sendo obras com um número alarmante de leitores e que inspiraram a criação de muitos outros títulos de mangás. Comumente, é utilizado números para dar a palavra final sobre qual obra é melhor que outra, mas ainda assim é preciso admitir a notoriedade de todas elas.
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2. Comunidade Kpopper
A comunidade kpopper é um grupo social formado por amantes da música popular coreana. Seu boom veio por volta de 2016-2017, com o crescimento de bandas como BTS, BLACKPINK, EXO e Monsta X. Ainda que parecesse um espaço seguro para aqueles que simplesmente adoram ouvir música, a comunidade kpopper passou por diversos escândalos envolvendo crimes, mortes, abuso e exploração.
Dentro do K-Pop, há um subgrupo odiado por todos aqueles que realmente consomem o gênero por amor às músicas e aos idols: as sasaengs. Estas são membros hostis e violentas, as famosas "fãs fanáticas" que agridem, envenenam, ferem e são capazes de até matar o seu cantor favorito caso ele, por exemplo, comece a namorar.
Além disso, a rivalidade dentro da comunidade também é muito forte, principalmente por conta do Big 3, o nome dado às três grandes e mais promissoras empresas da música sul-coreana, sendo elas: agências de entretenimento SM Entertainment, YG Entertainment e JYP Entertainment (a Hybe também é uma das maiores empresas). Os grupos musicais formados por essas agências (Girls' Generation, SHINee, EXO, Red Velvet, NCT, aespa, BLACKPINK, Treasure, BABYMONSTER, TWICE, Stray Kids, ITZY, NMIXX e BTS) são os principais a serem metidos em discussões acaloradas entre os kpoppers.
Fora isso, um dos lados mais sombrios da indústria do K-Pop é - sem sombra de dúvidas - o terrorismo alimentar que as empresas cometem contra seus idols, impondo a eles dietas muito restritivas, ensaios extremamente exaustivos, cirurgias invasivas e punições severas quando uma regra é quebrada.
Leia também: A Depressão e o Suicídio no K-Pop
3. Comunidade Server
A comunidade server é um grupo social que se concentra no Discord, uma plataforma de socialização virtual que permite criar servidores dos mais variados jeitos e tipos. Dentro dessa rede social, estão um grupo bastante nocivo: os paneleiros. Esses são sem sombra de dúvidas os indivíduos mais odiados pela internet num geral, tanto que é até comum que seus membros delatem uns aos outros para fugir das consequências de suas ações asquerosas.
Os paneleiros são jovens adultos (e, às vezes, até adolescentes) que vão para servidores do Discord atrás de outros jovens mais vulneráveis e fáceis de manipular. Uma vez que o primeiro contato é feito e uma relação é estabelecida entre o paneleiro e sua vítima, ele passa a ameaçar vazar fotos íntimas e dados importantes (doxxing) na internet e para os familiares e amigos do jovem manipulado.
Felizmente, existe um grupo capaz de rivalizar frente a frente com esses criminosos: os justiceiros. Estes que são responsáveis por caçar pedófilos em servidores do Discord e revelar seus rostos, assim como ajudar a polícia coletando provas das ações pútridas dos paneleiros e levando-os à justiça.
Em 2024, o Brasil parou ao descobrir a existência de King, Law, Verdadeiro Vitor, DPE, Jouts e Dexter, membros do grupo cyberterrorista OPSEC (Organização Paneleira de Segurança). Esse grupo fingia ser um grupo que combatia meliantes nos servidores do Discord, mas a verdade é que eles mesmos cometiam crimes bárbaros contra pessoas inocentes.
Além disso, muitos servidores aparentemente inofensivos já foram palco para o surgimento de pessoas mal intencionadas agirem sobre os participantes. Sem uma moderação rígida, servidores como o do youtuber Goularte foram tomados por paneleiros e "merdeiros" dispostos a fazer o que quiserem com os outros e sem medo de sofrer represálias por isso.
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4. Comunidade Fait Divers
A comunidade fait divers é focada em membros atraídos pelas várias curiosidades sobre o mundo, não é atoa que o termo significa "fatos diversos". Existem muitos expoentes dessa comunidade aqui no Brasil, como por exemplo: Fatos Desconhecidos, Você Sabia, Não Adivinho, Canal 90 e entre muitos outros.
Os membros fait divers são pesquisadores natos e ávidos por conhecer o lado mais chocante sobre o universo em que vivemos, assim como a maioria das trincheiras que se ramificam de um saber para o outro, conectando pessoas que anseiam por aprender mais sobre aquilo que não é ensinado nas instituições de ensino, o que inclui: estudos, teorias, conspirações e curiosidades variadas.
Não há exatamente um mal na comunidade fait divers, o que acontece na maioria das vezes são pessoas utilizarem páginas da internet focadas nesse nicho como fontes absolutas da veracidade dos fatos, ao invés de se aprofundarem na curiosidade em si e olhar para ela de forma holística.
Leia também: Fait Divers, os Jornalistas de Curiosidade e Fatos Diversos
5. Comunidade MOBA
A comunidade MOBA é focada no gênero de jogos que leva esse mesmo nome. Por se tratar de jogos online, acontece muito de aparecerem trolls (jogadores trapaceiros) que entram nas partidas apenas para avacalhar com a diversão de todos, utilizando de hacks ou até se deixando ser abatido por adversários para desbalancear o placar.
Tirando isso, há um claro defeito na maioria desses jogos: todos se inspiram uns nos outros em questão de design e jogabilidade. Por exemplo, é óbvio que o jogo Mobile Legends se inspirou em League of Legends (2013) para criar seu universo pessoal; assim como o jogo Honor of Kings (2015) parece que inspirou a criação do Mobile Legends (2016) e por aí vai. Não há mais aquela originalidade de antes, a maioria esmagadora dos MOBAs seguem um padrão à partir de outros jogos parecidos, o que pode fazer com que um gamer olhe para um novo MOBA em ascensão e nem sequer baixe para testar, pensando se tratar apenas do mesmo de sempre.

Porém, para não dizer que a comunidade MOBA é uma das mais saudáveis, é preciso prestar atenção no chat do Mobile Legends para ter uma noção de até onde os jogadores podem ir em busca de atenção ou dinheiro. Isso porque dentro do chat há players que divulgam seus perfis contendo fotos NSFW e nada amigáveis para o público (que contém várias crianças).
Fora isso, durante muito tempo, League of Legends recebeu um estigma grande em cima dos seus jogadores, apontados por telespectadores como sendo homossexuais, isso apenas por conta do jogo ter personagens masculinos que têm um design que mostrava seus corpos sem camisa, insinuando que isso era para atiçar jogadores atraídos por personagens 3D com esse tipo de vestimenta.
Por hoje é só, muito obrigado por ter lido até aqui. Estou pretendendo fazer uma parte 2 deste artigo, então, pode ser em breve vocês terão novas surpresas!
Muito obrigado por terem aguentado todos os parágrafos, e até a próxima!
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